Abreu, Cássio Veloso. Urbanização, apropriação do espaço, conflitos e turismo: um estudo de caso de Angra dos Reis. Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, UFF, Niterói, 2005
A partir do início da década de 1970, o município de Angra dos Reis, localizado no litoral ao sul do Estado do Rio de Janeiro, passou por várias transformações deflagradas por um ciclo de investimentos estatais de cunho estratégico. Dentre eles, o trecho da Rodovia Federal BR 101 que liga a cidade do Rio de Janeiro a Santos, SP, inaugurou uma nova fase no seu desenvolvimento através da ampliação das oportunidades oferecidas ao capital imobiliário tendo em vista o incremento das taxas de urbanização devido à crescente industrialização, especialmente no que se refere ao desenvolvimento da atividade turística. Desse processo têm emergido diversas contradições, notadamente no que diz respeito à distribuição dos custos da urbanização e ao consumo predatório dos recursos cênicos e ambientais do município, que se tornou campo de disputas entre os interesses do capital imobiliário, de um lado, e dos grupos sociais que buscam alternativas de desenvolvimento local com base num tipo de atividade turística, calcada no manejo sustentável dos recursos naturais e culturais ainda presentes na região. No âmbito da gestão urbana, tais disputas têm se dado através das tentativas de implantação de canais de gestão democrática da cidade – implementadas notadamente pelas sucessivas administrações do Partido dos Trabalhadores, PT, entre os anos 1988 e 2000 – entremeadas com iniciativas de administração urbana de caráter essencialmente empresarial. Neste trabalho é analisada a urbanização recente do município de Angra dos Reis, priorizando as disputas e os conflitos entre os interesses dos atores com diferentes concepções sobre a atividade turística desse município desde a primeira gestão do PT (1988 – 1992) no município até agora. A análise está focada tanto na comparação entre os modos de atuação do capital turístico-imobiliário e as propostas alternativas de exploração e consumo menos predatório do espaço, sugeridas por organizações ambientalistas, alguns empresários do setor de turismo, pequenos produtores rurais e algumas comunidades tradicionais da região, quanto na avaliação de alguns pontos positivos e críticos das políticas públicas recentes vinculadas ao desenvolvimento urbano, ambiental e turístico do Município de Angra dos Reis, que passaram a ser implementadas desde a aprovação do Plano Diretor em 1992. Dentre as conclusões a que se chegou através do estudo, destaca-se que apesar das tentativas de implantação de formas de gestão mais democráticas da cidade, os modos tradicionais de atuação do capital imobiliário continuam pautando um tipo de desenvolvimento que reforça o já histórico consumo predatório dos recursos naturais e culturais, tão caros ao município.
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