Nesta sexta-feira, 4 de outubro, vai ocorrer na Casa de Cultura de Paraty, uma audiência pública para tratar da educação das comunidades caiçaras de Angra dos Reis e Paraty. A audiência marca a defesa do direito à educação para essas comunidades. A audiência foi chamada pela Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, e terá a participarão das Secretarias Municipais de Educação de Angra dos Reis e Paraty, da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro, dos Ministérios Públicos Estadual e Federal e da Universidade Federal Fluminense. Além das instituições públicas, estarão presentes o Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) e as comunidades de Paraty e Angra dos Reis, principalmente da Ilha Grande.
Em Paraty e na Ilha Grande temos comunidades que ainda não tem garantido o acesso ao ensino fundamental completo ou muitas vezes precisam realizar longas viagens por mar e terra até chegar a uma escola. Em Paraty, com a abertura das turmas de 6o ao 9o em 2016, na Praia do Sono e no Pouso da Cajaíba, haverá a formatura das primeiras turmas concluintes do ensino fundamental na zona costeira de Paraty. Agora estão aptos ao ensino médio, mas este só existe na cidade. Em outras comunidades como Ponta Negra, nem o 6o ano chegou, e no Mamanguá, onde teve início o 6o ano em 2019, ainda falta professores e melhores condições de trabalho para atender os alunos.
Na Ilha Grande, as crianças e jovens encontram dificuldades com longos trajetos de barco, falta de merenda, fechamento de escolas e algumas gestões pouco abertas à participação comunitária. Há também sobrecarga de trabalho para professores que se desdobram em função de direção.
Além dos problemas estruturais, uma questão chave é repensar o currículo e as práticas pedagógicas, para valorizar a cultura e o território das comunidades caiçaras. Para promover essas mudanças no âmbito da educação escolar e não-escolar, o Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra, Paraty e Ubatuba tem apostado na ideia de “educação diferenciada”, que se afirma através da valorização da cultura local (caiçara), do protagonismo comunitário, da interação entre saberes formais e populares, da defesa do território e da emancipação política.
Desde 2016, o Instituto de Educação de Angra dos Reis (IEAR/UFF) vem contribuindo com esse processo com o programa Escolas do Território, coordenado por Domingos Nobre (IEAR/UFF), que incide na formação de professores e na reorientação curricular das escolas caiçaras de 2o segmento do Ensino Fundamental de Paraty – Praia do Sono e Pouso da Cajaíba. De lá para cá o programa Escolas do Território incluiu o 1o segmento das escolas caiçaras da zona costeira de Paraty (8 no total) e das escolas quilombolas do Campinho e Cabral. Também atua na formação de professores das escolas guarani (Aldeia Sapukai) e do Magistério Indígena.
1. Exposição das ilustrações dos cordéis “O Sono, Caiçara e a Luta” e “O Pouso, Caiçara e a Luta”, produzidos pelos alunos das escolas caiçaras em Paraty. 2. Janela da sala de aula da Escola Municipal Martim de Sá, na Praia do Sono. 3. Oficina sobre educação diferenciada das comunidades caiçaras de Paraty. 4. Oficina com professores e comunitário da Ilha Grande. As oficinas foram organizadas pelo Coletivo de Apoio à Educação Diferenciada.